quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


CAPITULO II: DORES...

- Miguel... acorda Miguel. Cara você deu o maior susto na gente.
- Cadê a Talita, em Dri? ela esta bem?
- Calma boy, ela esta bem sim, ficou aqui a noite toda com você, mas teve que voltar pra casa.
- Por que você esta rindo, em seu bobão? Ai, que dor...
- Vocês dois são a piada do ano. Os garotos que pulam o muro para entrar na escola, deve ser a primeira vez da história da escola, talvez da cidade. A dona Carla já esta encomendando uma estátua para colocar na frente da escola. A Talita erguendo você por cima de uma cerquinha, e você com a cara estribuchada no chão, os dois vão ser heróis dos professores durante uma eternidade- risos.
Miguel estava deitado no leito do hospital, seu calcanhar estava enfaixado, pois o tinha torcido. havia um corte no supercílio esquerdo, além de um arranhado no rosto.
- Miguel, Miguel toma juízo menino, para você se tornar um médico é apenas o que falta.
- E ai Doutor Rodrigo, quantas horas de vida eu tenho?
- Muitas, eu espero... mas serão muitas mais se você botar juízo nesta cabecinha.
- Pode deixar Doutor, se eu tiver mais juízo vou começar a apitar partidas de futebol- risos.
- Bom, o ''Sr. Juízo" já pode ir para casa, mas não beba e nem fume nada nos próximos cinquenta anos. Daqui sete dias você retorna para uma bateria de exames, mas se sentires qualquer sensação estranha, venha logo. - diz Doutor Rodrigo anotando notas técnicas em uma prancheta.
- Valeu Doutor, pode deixar que eu só tomo juízo.
Desceram as escadas do hospital, Miguel sendo apoiado pelo irmão, ao sair do Hospital avistaram no carro Dona Maria e Isabela aguardando.
- E ai Mama, tudo bem?
Silêncio.
-Mama...
- Você já esta extrapolando Miguel, agora sou o homem e a mulher de casa, tenho que cuidar de vocês, mas você tem que ajudar, senão fica difícil!- diz Dona Maria levemente exaltada.
- Perdão Mama, eu só não queria que você se decepcionasse comigo novamente, por isso fiz aquilo.- Miguel se aproxima e beija sua mãe - Perdão.
- Oh Menino... - diz a mãe sorrindo- apenas não nos assuste mais assim.
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- Alô!
- Miguel, você já esta pronto?
- E ai Tatah... para fazer o quê?
- A festa da Ariane... Rafael, Rafael, Rafael...
- Amiga pilantra... minha mãe não vai deixar!
- Vai sim, eu pedi para o Leonardo falar com ela, e você sabe que sua mãe é só amores com o meu irmão, dai ele disse que você ia vir dormir aqui.
- Conta outra vai!
- Não meu amado, é verdade! As nove ele passa para pegar você.
- Me pegar é? Já estou arrumado!- risos - Então está beleza, vou me arrumar.
- Não esquece de trazer uma mochila, pois lembre que você vai dormir aqui!
- Posso dormir do lado do Leo? Seu irmão é um gatinho!
- E eu não duvido dele não... Você me arruma o seu e eu arrumo o meu. - risos.
- Tá certo! E vamos parar de tagarelar, vou tomar banho.
- Beleza, beijos.
- Beijos.
Sabe, as vezes eu me pego imaginando, de vez em quando parece que o Rafael fica me olhando na hora do intervalo, na fila da merenda, na hora das trocas de aula, na saída da escola, eu me pergunto se ele fica pensando: '' Esse garoto é nerd demais!''. Mas bate a esperança de ser ''Até que ele é boa pinta, se eu gostasse da fruta traçava ele...'' Ai aquelas coxas, aquele sorriso, aquele olhar penetrante, quando chego perto dele fico vermelho que nem pimentão, sinto que os meus átomos pedem a ligação com o corpo dele, pois quando o toco (logicamente sem querer querendo) sinto um leve choque perpassar meu corpo.
- Miguel! sai do banho logo, que eu marquei de sair com a Isa... parece que nasceu debaixo d' água!
- Já vou Dri... - Diz Miguel.
-Você fica ai horas no chuveiro, depois vêm querer fazer passeata de ''Salve a Floresta!''.
-Seu bobão, eu desligo o chuveiro para me ensaboar.
-Mande ele subir mãe, que eu vou me trocar.
- Eu espero aqui embaixo mesmo Miguel, estou conversando com a sua mãe.
-Que pena...- pensa Miguel.
Miguel sai do banheiro, quase sendo atropelado pelo irmão, ao entrar em seu quarto procura rapidamente uma camisa e uma calça, desarrumando todo o guarda-roupa. Escolhe um modelo simples, um jeans riscado e uma camisa salmão. Desce rapidamente as escadas e encontra Leonardo sentado no sofá junto a Dona Maria.
- E ai Leo, tudo bem? - diz ficando levemente vermelho.
- Ahan, a Talita pediu desculpas Dona Maria, ela disse que foi com boas intenções que eles tentarão fazer aquela arte.
- Fique em paz Leonardo, acho que a Talita é a única ajuizada desses dois.
- Mama, não me envergonhe na frente dos outro, por favor...
-Borah Miguel, eu tenho que passar na locadora ainda.
Miguel se despede da mãe com um beijo no rosto, e segue com Leonardo para o carro.
- Só vocês mesmo- diz Leonardo abrindo a porta do carro.
-Que foi?
- Eu não curto mentir Miguel, principalmente para sua mãe.
- Mas depois da festa eu vou para sua casa mesmo, durmir no seu quarto - diz Miguel com um riso nervoso no rosto.
- Vai sonhando...
-Onde esta a Tatah?
-Ficou com medo da sua mãe, dai eu já deixei ela lá na casa da Ariane.
- Você vai ficar com a gente na festa? - Diz Miguel com um brilho nos olhos...
- Chegamos! Não vou não, tenho que resolver uns negócios do meu trabalho. Aliás, tenho que ir arrumar a cama para o bebê dormir- diz dando um leve sorriso.
- Seu Pilantra... Tchau, muito obrigado pela carona.
- Liga não, mais tarde você paga...
Sabe, o Leonardo até que é gatinho... tem 1,80, olhos claros, pele morena de sol, luta Jiu-Jitsu, mas nunca vi ele com menina nenhuma, mas também nunca ouvi histórias sobre a sua sexualidade( infelizmente). Dizem que ele trabalha como michê de senhoras... eu que queria um michê desses!
- E ai Miguel! Descobriu que nem todo anjo voa?
-Engraçadinha, Ariane... estou bem, só fico um pouco tonto as vezes.
-Até que você ficou mais gatinho com esse corte na sombrancelha, uma ar meio desprotegido.
- E posso afirmar que mais dolorido também.- diz fazendo uma cara séria.
- Bom, fique a vontade, meus pais foram para Belo Horizonte em um Congresso, qualquer coisa o quarto lá encima está livre... e têm uma caixa de preservativos na gaveta, se não souber usar eu lhe ensino...
- Obrigado, mas essa foi a pior cantada que eu já recebi, fique sossegada que eu sei usar- ''Uma mentira dita com firmeza se torna verdade'' pensa Miguel.
- Mais tarde vou conferir...- diz Ariane piscando e saindo para falar com outras amigas.
Sabe, o mais estranho em algumas meninas é que parece que não se dão conta de que estão sendo inconvenientes. Pô guria chata, com um ar meio de Patricinha, eu já disse a ela que não vai rolar nada entre nós dois, mas ela não cansa de insistir. Mas eu até entendo ela, quando a gente gosta de verdade nos submetemos a cada coisa...
- E ai Miguel, tudo bem com você mano?
- Oi Rafael- diz Miguel ficando levemente vermelha- estou sim.
- Está com calor mano? - diz Rafael com um riso maroto no rosto, ao mesmo tempo que espreguiça levemente os braços por entre a cabeça, deixando as axilas a mostra.
-Um pouco - diz Miguel ficando mais vermelho e abaixando levemente o olhar.
- E ai Miguel, cara você quase me matou do coração, a Dona Carla ficou por um triz de me expulsar da escola...
-Desculpe Tatah. Com licença, vou tomar um ar lá fora, na varanda.
A casa de Ariane era grande, seus pais eram médicos e trabalhavam juntos no mesmo hospital em que Miguel havia sido atendido. A varanda era florida, com violetas e orquideas em sua extensão. Ao lado havia um gramado bem aparado, com algumas árvores em seu seio.
-Deus, Deus... por favor, não permita que eu demonstre meu amor na frente do rafael - diz em tom baixo.
A lua brilhava no céu, acompanhada eternamente por vários pares de estrelas, formando uma coroa de brilhantes a coroar a dama da noite. No centro delas, a mancha acinzentada deixava evidente a Miguel a lenda dos apaixonados... o coelho do amor estava nitido em seu olhar.*

*Antiga lenda japonesa, conta a história de uma Deusa que foi punida, sendo transformada em coelho, e exilada na Lua. Dizem que os apaixonados e as crianças são os únicos que conseguem enxerga-la.

-Aceita vinho?
-Não, eu não posso beber, Rafael...
-Apenas uma taça não irá lhe fazer mal.- diz Rafael servindo uma dose farta a Miguel.- Sabe, o pessoal ficou muito assustado com você, inclusive eu, ficaram dizendo que o ''Arcanjo Miguel havia perdido o dom de voar, que era bom ficar apenas nas piscinas mesmo." - risos.
-Esses acidentes acontecem- diz Miguel.
- Sabe, você foi um dos grandes responsáveis pela vitória da nossa escola no ano passado, no interescola... cinco ouros e um bronze não é para qualquer um, lembro que você ganhou de lavada no nado borboleta.
-É, foram oito segundos de vantagem - diz Miguel recordando dos momentos que alavancaram sua popularidade momentaneamente na escola- mas vocês que levam o crédito, as pessoas dão mais valor aos esportes coletivos aqui no Brasil. Você levou ouro no Basquete e no Futsal. E a Vanessa levou prata no vôlei feminino.
Neste momento o semblante de Rafael mudou rapidamente, seus olhos ficaram levemente encharcados.
-Desculpe- disse Miguel, se condenando por remeter o amado aquela lembrança.
- Não, tudo bem - diz Rafael servindo outra porção de vinho a Miguel, começando a beber no gargalo a metade da garrafa que sobrara. - Eu gosto bastante da Vanessa, mas eu vi ela na praça com o Leandro, lá da escola Polivalente. Eles estavam se beijando Miguel! Se beijando em público, me fazendo de palhaço na frente da galera.
''Ai se ele fosse meu, nunca o faria de palhaço, cuidaria como o mais precioso vaso de cristal!''- pensa Miguel se aproximando de Rafael, este agora levemente alcolizado.
- Sai de perto seu veado... pensa que não sei suas intenções?!
-Calma Rafael, eu só queria ajudar- diz Miguel com o rosto sendo molhado pelas lágrimas que escorrem.
-Desculpe Miguel, eu só estou nervoso.
- Tudo bem, eu lhe entendo. Mas já que você sabe... fique tranquilo que eu prefiro te ter como amigo, do que não ter nada com você. Sei que você não pode me corresponder... - fala Miguel muito envergonhado.
-Como você consegue? Só de imaginar eu tenho nojo, vontade de vomitar, dois machos se pegando... na outra escola, eu e meus amigos davamos era porrada em gente assim... naqueles emos veados!
-Como você pode Rafael? Vocês não tem o direito de julgar o amor dos outros. Não se escolhe quem se ama, Rafael, só se ama... e esse amor é tão puro quanto qualquer outro - diz Miguel soluçando de tanto chorar, sentindo morrer as borboletas em seu estômago. - não é batendo, não é assim que você vai mudar o comportamento de alguém. Eu já pedi tanto a Deus... para que eu mudasse... mas nunca, nunca.
- Acho que deve ser algum tipo de distúrbio.
-Você não entende, nunca vai entender!!! - grita Miguel, saindo e deixando Rafael sozinho com a garrafa na mão.
- O que foi Miguel- diz Talita vendo o amigo altamente alterado entrando pela porta.
- Nada Tatah! Preciso ficar um pouco sozinho.
- Oh querido - Talita o abraça como quem abraça um irmão que a muito não via.
-Vou subir no quarto, se a Ariane aparecer diga que estou com dor por causa da queda, e estou muito agressivo! Não a deixe subir de forma alguma, por favor.
- Pode deixar! Fique tranquilo meu amor... Você é maior que qualquer um, ouviu Miguel? Qualquer um! - Diz a amiga derramando algumas lágrimas.
Miguel sobe correndo as escadas, sentindo seu coração dilacerado. ao chegar ao quarto, bate a porta e se tranca.
-Que Droga!!! - diz se desmanchando em lágrimas, como se toda esperança sumisse do seu peito, como se todo o chão desabasse, como se todas as estrelas se apagassem no céu.
Sabe, o pior de se apaixonar, sendo gay e curtindo um cara hétero, é saber que nunca vai rolar nada, mesmo assim a gente fica na esperança, no fundo sabemos que não vai rolar nada, mesmo assim planejamos diversas cenas em nossa cabeça, no aniversário da amiga, no casamento de um parente, ou no grupo de estudos no fim de semana. Sempre imaginando diversas cenas que nunca se tornam realidade.
- Por quê Deus? Por quê? Eu não quero ser assim, eu quero ser normal que nem todo mundo, quero curtir, sair com garotas, beijar minha namorada na rua que nem todo mundo. Eu não quero ser anormal! Um monstro... tendo que fingir para os outros algo que não sou, tendo que fugir de mim mesmo! - alguém bate a porta- quem é? Não estou afim de falar com ninguém...
-Sou eu Miguel, o Rafael...

(continua)

5 comentários:

  1. Sobre os dois.
    Tenta pegar as palavras principais do meu comentário pq..eu tenho dificuldade de mostrar oq eu to pensando na ordem certa. Mas enfim.
    Eu ri (na parte da camisinha), e eu fiquei muito..sei-la..na parte do Rafael cabrero.
    Eu to gostando muito da história. Muito mesmo.
    O amor é um sentimento estranho. Acho que é o mais confuso de todos.Esse ano eu meio que adotei a idéia " Eu sou poetisa e não aprendi a amar"...mas isso fica pra futuras conversas em praças vazias.
    Mas resumindo tudo..eu só tenho dua palavras pra definir o que eu senti lendo os dois textos : Sinceridade e coragem.
    E mais duas como desejo...força..e inspiração pra continuar.
    Se amar faz dele um monstro, um anormal...Meu Deus. O que então sou eu que já ando a duvidar do amor verdadeiro?
    Nem sempre a fraqueza que se sente quer dizer que a gente não é forte.

    No topo da montanha de cristal.

    (Eu amo você. Como eu amo as andorinhas

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  2. Meu amigo, anormal eh quem nao AMA, monstro eh o desprovido de sentimentos...Essa história eh linda e vc escreve DIVINAMENTE BEM. Um singelo conselho: continue no nivel do primeiro capitulo mesclando narrativas com abstações inteligentes.
    Te amo meu anjinho sem asas...rsrs

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  3. nossa, voces escrevem muito bem...
    vou chamar voces pro terceiro capitulo!
    amo vcs, obrigado pelas dicas.

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  4. Eu gostei do jeito simples que você escreve, a leitura fica gostosinha *-*
    Tô seguindo aqui o blog e quando sair o capítulo III, quero ser um dos primeiros a ler! ;D
    Abraços.

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